sábado, 23 de janeiro de 2010

Sutilezas de ti que ainda nem sei


(Prelúdio)

Enfim, nos encontramos com a aconchegante experiência de um impessoal.
Era uma sensação que arrebatava todas as memórias que guardávamos até ali e que estavam apenas esperando o momento certo para serem utilizadas de novo.
Experiência impessoal que resistia a essa nossa mania de criarmos uma "dispensa de sentimentos". Quase como ervilhas em conserva.
Ficamos à espreita, feito caçador de ouvido atento, e ao primeiro sinal da chegada de um acontecimento da espécie novus criativus, bravamente lançamos mão de nosso sentimento-ervilha e aniquilamos a inconveniente caça.
Assim vamos arquivando os sentimentos, colocando-os em pastas ordenadas pelo alfabeto e dependendo do que a situação lá fora peça, já sabemos o que usar.
A partir do momento em que deixamos as fôrmas, os deveres e as identidades se apagando, respiramos outros ares. Tocamos novas águas.
Nos enfeitamos para a vida.


Em qual sentido começas a desabotoar a camisa depois de feito o dia ensolarado?
Se esticas bem o corpo na cama pro sonho ter mais espaço de caminhar?
Será que batizas as ruas de onde mora e por onde passas à noite com algumas de suas músicas preferidas? (Cada rua tem mesmo uma canção!)
Consegues saber qual pássaro canta apenas ouvindo-o de sua janela?
Passados alguns dias, pensas nos motivos de sentarmos sempre no mesmo lugar na mesa de café?
Ao atravessar aquela passarela comprida no jardim do centro da cidade preferes ir andando de olhos fechados e depois, os abrir de supetão só para ver o que mudou?
Tens medo de dizer que está com medo por não saber se vamos continuar sorrindo assim até tempos mais tarde?
Sem perceber, acabas sempre lendo o jornal ou a revista de trás pra frente e ao chegar na capa, olha pro lado discretamente para ver se ninguém em volta reparou seu hábito deveras desnorteado?
Sentas no ônibus e se perde em pensamentos tentando adivinhar como se chama, onde trabalha e o que a pessoa que viaja ao seu lado pede como desejo a uma estrela que vê nascendo no céu?
Quando chegas em casa e encontras na geladeira seu doce preferido, se detém durante 15 segundos para olhar e tentar descobrir se é mesmo verdade que ele esteja ali e logo após, com o coração balançando, agradece aos Deuses pela invenção do chocolate?
Se algum dos dedos de seu pé tem um formato esquisito, diferente dos outros?

Essa sou eu. Tateando seu espaço, sem medo algum de me perder,
querendo conhecer-te em sutilezas
para não mais saber quem és.

Ainda nem sei...

3 comentários:

  1. Ler de trás pra frente, outro elo nosso :)

    "Sem medo de me perder"... é daí que vem a sua força. Perde-se nas palavras, nos encontros, nos sentimentos, nas paixões. Perder-se é permitir-se e eu não esperava menos de uma poeta com alma de criança, pra quem tudo é novidade. Eu amo a sua simplicidade moleca!

    Beijo da fã assumida,
    Bru

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  2. Adorei

    Tudo, mas principalmente a idéia de se entregar nas pródpias palavras, sem medos.
    Te adoro preta...

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  3. Essa é muito boa! E eu me achava um ser eu muito do individual... Mas de que vale se achar sem se perder? hehehe

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