sábado, 23 de abril de 2011

Ecos teatralizados

Da peça "Quem não sabe mais quem é, o que é e onde está precisa se mexer", trazida ao Rio pela paulistana "Companhia São Jorge de variedades".
A apresentação foi sensacional.
No elenco: Mariana Senne, Patrícia Gifford e Marcelo Reis.
Este trecho, do escritor Heiner Muller, é dito na peça (escrita a partir de sua obra), com algumas modificações e o deixo aqui, pois como todo o restante da apresentação, pode gerar inquietações e movimentos:

"Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não conservou.
A mulher na forca.
A mulher com as veias cortadas. A mulher com excesso de dose SOBRE OS LÁBIOS NEVE a mulher com a cabeça no fogão a gás.
Ontem deixei
de me matar.
Estou só com meus seios, minhas coxas, meu ventre.
Rebento os instrumentos do meu cativeiro -
a cadeira,
a mesa,
a cama. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar.
Escancaro as portas para que o vento possa entrar e o grito do mundo.
Despedaço a janela.
Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que se serviam de mim na cama, mesa, na cadeira, no chão.
Toco fogo na minha prisão. Atiro minhas roupas no fogo.
Exumo do meu peito o relógio que era o meu coração.
Vou para rua, vestida em meu sangue."

Hamlet Máquina, de Heiner Müller

VALE CANTAR OFÉLIA E NÃO SÓ LÊ-LA!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário